sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Tentando entender um pouco mais tudo isso! (1º Parte)

Certa vez, quando eu ainda era bem pequeno, entrei na brincadeira dos garotos mais velhos da minha rua e acabei comendo areia – literalmente. Não sei como, mas me convenceram a ingerir um pedaço de bolo, feito com barro, ou algo assim e acabei parando em casa com uma baita vergonha e sob as reclamações de minha mãe, que insistentemente dizia pra eu não confiar em todo tipo de pessoa. Ainda me lembro que chorei muito nesse dia debaixo do chuveiro, enquanto ela me dava banho e limpava toda a lambança que eu havia me metido.

Enfim, aquelas palavras ainda ecoam na minha mente até hoje – e imagine que eu tinha uns 03 ou 04 anos de idade. Mas foi de cedo que acabei aprendendo uma importante lição. Aprender em quem eu deveria confiar. Saibam que a priori podemos citar nossos pais, nossos irmãos, ou mesmo a família de uma forma geral (tios, primos e afins), mas a história não é bem assim. Hoje sei que dentro de meu lar posso confiar cegamente em todos – Graças a Deus! – nunca tive dúvida disso. Mas só sobre isso. Os de fora é que me preocupam.

Não quero com isso mostrar que desconfiando, mas acreditem, eu confio desconfiando sempre. A tarefa é árdua e muitas vezes relegamos aos outros uma responsabilidade que não lhes pertence, a de conquistar a nossa confiança. Mas também aprendi que tal responsabilidade recai sobre mim da mesma forma, diante dos demais que me rodeiam. Esse é o lance. Você não só tem que saber em quem confiar, mas tem de demonstrar que também é uma pessoa de confiança.

Isso as vezes cansa demais, deixando-me com vontade de ser um pouco mais alienado – se é que as vezes, ou muitas vezes, não me fiz como tal pra sobreviver nesse mundo maluco. Por que tudo não podia ser mais simples? Por que logo cedo temos que ativar o mecanismo da desconfiança? Não falo daquela instintiva e natural, que nos impulsiona a viver. Falo daquela maléfica, que nos tira o sono a noite, lançando em nossas mentes a inefável pergunta: Será que devo confiar nele? Será que não confiável o bastante? Gerando na gente um mal estar, uma sensação de que não só nos moldamos aos que tange a nossa existência, mas deletamos de nos um caráter verdadeiro e mais singelo, que se traduz na inocência de uma criança.

Por isso, muitas vezes quando escrevo, remeto-me a minha infância – Ô tempo bom!! Não tinha a chateação do trabalho, dos estudos, da carreira, dos relacionamentos amorosos mal feitos, não tinha que pensar o que vestir, o que comer, ou mesmo em quem confiar; a não ser que isto estivesse ligado diretamente a minha sobrevivência – natural não?

Vou me propor a desconfiar menos de agora em diante, bem como não vou mais ficar tentando achar soluções para mostrar para os outros que sou de confiança... Quer saber? Se danem os que não confiam em mim! Se danem também aqueles que jamais me deram a menor margem de confiança ou a recíproca verdadeira de um carinho desinteressado. Tudo hoje é interessem mesmo! Dou graças a Deus por ainda ter em quem confiar – meus pais, meu irmão e os amigos fieis – e não precisar me virar em mil para que estas pessoas confiem em mim.

Durante todo esse ano, ouvi da boca de muita gente que perdi a confiança de alguém que me importava demais. Sofri feito “sovaco de aleijado” pra reconquistar tal confiança – se é que realmente a tive – e de nada valeu. Corri mundos e fundos, me sujeitei a todo o tipo de provação e de nada adiantou. Perdi as minhas adoráveis noites de sono e me descabelei. Vale alguma coisa? Valeu sim, aprendi a lição, mais uma lição. A lição de não gastar meu dias e meus esforços, para provar para os outros o meu valor. Por isso, quero voltar a ser o menino bobo do bolo de barro. Não quero experimentar outra fatia, mas quero aprender que se meu lugar não é na turma dos garotos mais velhos da rua, será sempre junto dos outros meninos bobos e cheios de sonho como eu era e como eu nunca deixei de ser.

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